Quando eu era criança, certa vez, atropelaram a gata
do meu amigo. Foi um Deus nos acuda. Todo mundo que estava dentro de casa
correu ao ouvir o grito de desespero das pessoas na rua. Ao ver aquela cena, eu
também saí correndo, mas até aquele momento eu não sabia o que estava
acontecendo. Quando eu deparei com um acidente: vi ali Mimi, a gata do meu
amigo, agonizando ao chão e próximo a ela, ele, ajoelhado aos prantos. Aquela
cena me comoveu, aquela gatinha que todo dia estava ali com a gente
acompanhando as nossas brincadeiras e jogos de bola, estava lá padecida ao
chão. De repente chega a mãe de meu amigo tomando aquela felina aos braços
correndo para casa e enrolando-a em um pano colocou-a carinhosamente, em um velho
sofá que existia atrás da sua casa. Neste momento ela pediu aos curiosos, que
estavam na sua casa, para saírem que ela ia tratar da bichana. Ao sair vi
novamente meu amigo chorando em um canto da parede.
No outro dia pela manhã, quando acordei, em frente a
minha casa meu amigo vinha passando com um saco plástico cheio de umas folhas
verdes e eu perguntei:- o que é isso? Ele respondeu: - É mastruz, eu fui pegar na
casa da minha tia, é para Mimi, mamãe vai fazer um remédio com esta planta e
ela disse que minha gata vai ficar boa. E ele saiu correndo com os olhos da
esperança. Quando vi aquilo, aquela esperança, deu-me um nó na garganta e meus
olhos encheram-se de lágrimas foi aí que eu fiz uma promessa, não sei se foi a
Deus, aos santos, o fato é que eu fiz, se Mimi ficasse boa, eu pediria para meu
amigo se abster de jogar bola por uma semana.
A Noitinha, na tradicional pelada da rua, vi meu
amigo em frente a sua casa, olhando a gente jogar. Entendi que ele estava
acompanhando a evolução do quadro de sua companhia. Então resolvi perguntar-lhe
como estava a sua convalescente:
- E aí, como tá Mimi?
- Tá bem melhor.
Foi quando eu disse para ele da promessa que eu
tinha feito e ele disse: - Se ela ficar boa eu sou capaz de passar um ano sem
jogar bola.
Passaram-se alguns dias e Mimi esta lá sã e salva. E
como de costume a noitinha a rua virava nosso Maracanã. E meu amigo ali sentado
e no seu colo Mimi, olhando a gente jogar, pagando a sua (minha) promessa,
porém feliz. Minha tia, como sempre, neste horário, ia passando para a novena,
quando viu Mimi no colo do meu amigo, fez um agrado um aconchego nos dois,
conversou uns minutinhos com meu amigo e seguiu seu caminho.
No dia seguinte, antes do almoço minha tia me chamou
para conversar e disse: - Ontem eu soube da promessa que você fez, a sua
intenção foi louvável, mas a forma do pagamento da promessa..., e continuou: -
Meu filho quando a gente faz uma promessa nós nos comprometemos com ela. Nós
não transferimos as responsabilidades para os outros, você jogou o sacrifício
para seu amigo apesar dele querer demais a saúde da sua gatinha. Cada promessa
que se faz, a pessoa que a faz, é a única responsável pelo sacrifício, pois o
desejo foi seu e nos nossos desejos e promessas nós não os transferimos para os outros. Lembre-se! Você é o único responsável pelas suas
promessas.
Eu tinha aproximadamente entre 10 e 11 anos, não
tinha ainda este discernimento, hoje eu sei que ela tinha razão. Mas se eu
analisar apenas a promessa e a penitência, tudo se cumpriu; eu através da minha
fé, fiz um pedido e Deus ou a dedicação da mãe de meu amigo ou as duas coisas
juntas concretizaram o meu desejo que foi a cura de Mimi. Meu erro: quem pagou
a penitência foi meu amigo. Hoje quando relembro esta história não consigo
deixar de pensar, nos campeões de promessas: os políticos. Eles prometem saúde,
salários dignos, educação de qualidade, segurança e se elegem uma, duas, três
..., e não cumprem suas promessas e nós pagamos a penitência através de
impostos, salários defasados e ter de olhar o descaramento do nepotismo.
Ratifico: na minha inocência eu errei, mas a promessa foi cumprida. Hoje,
desculpe titia, eu gostaria de estar pagando a penitência de uma promessa cumprida , do quê estar pagando penitências de
promessas não cumpridas, mesmo que a responsabilidade da penitência não fosse
minha eu estaria, sem dúvida, com aquela mesma alegria nos olhos que eu vi meu
amigo quando ele deu colo a sua gatinha curada, feliz...
Vote nulo, depois não venham reclamar mais uma vez
que as promessas não foram cumpridas, e a revolução acontecerá, acredite.
Perboyre
A procura de pessoas com promessas
verdadeiras ouvindo, “ Até quando esperar (clique e ouça)” da Plebe Rude.
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